quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Surgimento do jornal no Brasil

Início

Como quase tudo que conhecemos hoje no nosso Brasil teve sua chegada tardia, se tratando de jornal e imprensa o contexto não podia ser diferente. Tentou-se, em 1706, fazer funcionar um prelo em Pernambuco, mas este sofreu bloqueio da autoridade colonial. No Rio de Janeiro 40 anos depois, Antônio Isidoro da Fonseca abre uma tipografia, para ser logo fechada um ano depois, em 1947, pela Carta Régia de 10 de maio, que proibia a impressão de livros ou de papéis avulsos. Antônio chegou a publicar o impresso O Exame de Bombeiros antes de ser preso e ter seu preâmbulo destruído.
A inauguração da imprensa no país, de fato aconteceu em 1808, quando aqui chega a Coroa portuguesa de D. João VI, inicialmente com a Impressão Régia, em maio, e posteriormente com a Gazeta do Rio de Janeiro, em setembro.
Em junho do mesmo ano, o Correio Brasiliense ou Armazém Literário começara a ser editado por Hipólito da Costa, em Londres, caracterizando-se por ser muito crítico, moderno e dinâmico. Costa tornou-se patrono da imprensa brasileira assim como um símbolo para historia dessa mídia. Apesar de o jornal ter sido proibido, apreendido, censurado e processado, não só no Brasil, mas também em Portugal, ele conseguiu números impressionantes para a época com 175 números e 29 volumes.
O Correio circulou até dezembro de 1822, quando, sabendo da Independência, Costa julgou concluída sua tarefa de assegurar ao Brasil instituições livres e costumes políticos civilizados e fechou o Correio com o propósito de voltar ao Brasil, porém, seu propósito não foi cumprido já que na data em questão foi nomeado imperador cônsul-geral em Londres e logo em seguida faleceu em 1823.
O príncipe-regente, que acabara de assumir o trono real, trouxe para o Brasil dois prelos e a biblioteca real. A partir daí pode-se então imprimir no Brasil livros, papéis diplomáticos, leis, cartas de jogo, além da Gazeta do Rio de Janeiro de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, sob licença da censura.
          A Gazeta do Rio de Janeiro começou a  ser publicada com periodicidade semanal em 10 de setembro de 1808, depois passando a ser bi-semanal, contando com edições extraordinárias, que somam 19 das 32 edições publicadas. O assunto da primeira edição extraordinária traz a notícia sobre "uma fermentão geral em todo o Portugal" contra os invasores franceses advindos da fase napoleônica.  A Gazeta se coloca unilateralmente em relação a esses acontecimentos e a expõe como um veículo oficial, apesar de nota afirmando o contrário.                                               
 Até que tenha chegado a notícia da vitória inglesa sobre os franceses, a Gazeta, com pequenas exceções como algumas notícias curtas e anúncios locais, serve apenas para os relatos,proclamações, ordens militares, decretos,exortações, editais. Após a derrota francesa, a Gazeta voltou a registrar os atos oficiais, porém com mais espo para notícias e anúncios. A Gazeta ditava pros para venda avulsa e assinatura, mas, inicialmente, nada cobrava pela inserção de anúncios. Desde o primeiro número o jornal criou um sistema de circulação que usava pontos-de-venda (livrarias) e serviço de assinaturas com entrega domiciliar. A Gazeta não era um jornal de pauta variada como o Correio Brasiliense. Seu perfil é de um órgão criado para informar sobre a vida administrativa e a movimentão social do Reino.


Meio
                                           
O ano de 1821 ganhou relevo na história da imprensa brasileira por ser uma etapa de liberdade de expressão do pensamento. Em 28 de agosto, D. Pedro, príncipe-regente, com o retorno de D. João VI a Portugal, decreta o fim da censura prévia a toda matéria escrita, tornando livre no Brasil a palavra impressa. A essa iniciativa juntam-se dois fatos decisivos: o episódio do Fico (9 de janeiro de 1822) e a Independência (7 de setembro), ambos em conseqüência da campanha pela separação do Brasil de Portugal desde a saída de D .João VI.  
Em 1844, os serviços de correios passam a entregar correspondências a domicílio, estimulando a circulação de jornais. Porém, para se receber um jornal de outro lugar ainda se deveria ir a uma agência local ou a um estabelecimento intermediário. Em 1858, o jornal Atualidade, editado no Rio de Janeiro, mobiliza entregadores (negros, ex-escravos, mulatos) para venda avulsa regular nas ruas da cidade. A partir daí, consolida-se uma estrutura de distribuão organizada: assinaturas domiciliares por via postal, pontos de assinatura (livrarias, lojas de modas, etc.) e de venda, que melhorava com o passar do tempo. Os pontos-de-venda dos jornais ingressam nos quiosques, que tomam conta das ruas centrais do Rio e de São Paulo. 
A imprensa de 1808 a 1880 foi uma etapa de marcante atividade panfletária, talvez a de maiores conseqüências em toda a nossa história. Reflete as ações políticas revolucionárias que viabilizam a Independência, pacificam o país e preparam a República. O que há é uma pequena imprensa, simples jornais, e um jornalismo feito por panfletários, por autores que polemizam, divergem,desafiam, conciliam, lutam, instigam, ensinam, constroem, destroem dentro de um cenário que inclui atentados, prisões, deportações e perseguições.
No século XX, os jornais vão para as bancas assim como são vendidos nos dias de hoje, passaram a cumprir prazos e regras advindos do modelo da Gazeta e a sessão de anúncios virou a sessão de classificados. A modernização da tipografia possibilitou a distribuição à mais leitores podendo imprimir também livros, documentos oficiais e cartazes com transcrição de editais, como este do intendente-geral da polícia: "Aos que publicarem escritos sem exame e licença, serão presos na cadeia pública e pagarão de pena 200 mil réis além das mais que se impõem aos que procuram quebrantar a segurança pública". 


Meio - Parte II

A segunda fase da imprensa brasileira começa em 1880, é um tempo de mais investimentos, renovação do parque gráfico, maior consumo de papel e abertura da dimensão empresarial. A tipografia perde o seu caráter artesanal para entrar numa linha de produção que exige aparelhamento técnico e manipulação competente. Resulta da associação do título a um estabelecimento gráfico, uma empresa jornalística industrialmente viável e economicamente rentável.
Pequenos jornais de discutível qualidade ou limitada penetração desaparecem com mais freqüência que na fase anterior.  A economia assinala duas transões: uma para o trabalho assalariado e outra para um sistema industrial. O âmbito restrito de um jornalismo mais literário e mais político já não atende às exigências da sociedade, a imprensa então deve situar-se num plano de interesse público, de identificação com os sentimentos de valorização da ordem jurídica, de aperfeiçoamento das instituições e de conquistas sociais voltadas para o indivíduo.
O Jornal do Brasil nasce com a primeira Constituição republicana. Seu número inaugural é de 9 de abril de 1891. O Jornal do Brasil aparece com a República, é de tendência liberal e inclinação conservadora, mas não aceita vínculo partidário. A morte de Pedro II leva o JB a dar uma edição especial sobre "O grande morto", foi uma forma de manifestar a sua simpatia pela monarquia.
Joaquim Nabuco assinou dois artigos preconizando a restaurão da monarquia e em 16 de dezembro de 1891 a redação foi atacada  por invasores que gritavam: "Mata, mata Nabuco". As oficinas foram depredadas.  Para salvar o jornal, Nabuco, entre outros, abandonam seus postos na empresa e na redação, fato o qual dá origem a uma sociedade anônima. Dois dias depois, aparece no cabeçalho uma linha: Sociedade Anônima Jornal do Brasil. 
Em maio de1893 Rui Barbosa assume a direção do JB aparecendo no cabeçalho como redator-chefe. Algumas mudanças são registradas: os fatos políticos têm predominância sobre notícias policiais e a linguagem passa a ser dura e direta. Com mudanças, advêm conseqüências a primeira delas foi a acusação de Floriano Peixoto de incitação a Revolta da Armada e depois desse fato, na madrugada de 1o. de outubro, o jornal é assaltado e ocupado militarmente. Rui se exila na Inglaterra e de Londres escreve para o Jornal do Commercio. O Jornal do Brasil reaparece na revolução de 30.
Em 1937 sofre censura por condenar o Estado Novo e em 64, igualmente, apesar de ter apoiado o movimento contra João Goulart. Enfrenta, como todos os outros meios de comunicação, a ação da censura e do AI-5. O JB é o último dos grandes a ingressar no processo editorial eletrônico, nos anos 80. Os governos republicanos de Deodoro e Floriano fecharam vários jornais em todo o país. O primeiro historicamente a sofrer violência foi a Tribuna Liberal (1888-1889) do Rio de Janeiro, que provocou uma intensa repercussão.
A partir de 1910, grandes jornais do Rio e de São Paulo instalam ou ampliam escritórios para os seus correspondentes em Londres, Paris, Roma, Lisboa, Nova York, Buenos Aires, Montevidéu e Santiago do Chile. Neles operam serviços fotográficos que são despachados por via marítima para a edição de fotogravuras.  Eça de Queiroz, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco assinaram correspondências do exterior e textos locais, se tornando os nomes mais influentes da época.                 
Entre as décadas de 1920 e 50, o cinema, o rádio e o disco, assim como o livro e a TV criarão novas necessidades no país e comina à mídia impressa alternativas limitadas como a criação de concursos para atrair leitores e garantir índices elevados de venda avulsa e de publicidade.
De 1924 em diante, com o advento do rádio, o jornal perde o monopólio descritivo dos fatos esportivos, sendo obrigado a dividir uma cobertura antes exclusiva, mas ainda mantém boa parte de seus leitores pela narração precisa e demonstração de fotogravuras e desenhos. Os anos 20 marcam o início da circulação de dois dos grandes jornais: O Globo, do Rio, e a Folha de S. Paulo (então Folha da Manhã).


Final (tendendo a continuação) 
           
Após a primeira eleição direta para presidente, em 1989, houve o processo de redemocratização brasileira que pôs fim na ditadura e, por conseqüência, no AI-5. Isso proporcionou um vasto e intenso campo de atuação à imprensa, que pôde exercer efetivamente seu papel. A concorrência pela preferência do cidadão na escolha de suas fontes de informação intensificou-se com o surgimento de novas mídias, como a TV por assinatura e a internet.               
Os jornais brasileiros tiveram que se adaptar a esse novo cenário e para tal buscaram maior eficiência técnica e gerencial. Assim, ao mesmo tempo em que se generalizaram as versões digitais, mesmo por iniciativa de jornais de pequeno porte (em muitos casos com edições apenas online), as edições impressas seguiram inovando buscando novos meios como títulos voltados para a leitura rápida.                    
O Brasil é um dos poucos países do mundo em que a circulação de jornais mantém-se em crescimento. No primeiro semestre de 2008, a média diária de circulação dos 103 jornais filiados ao Instituto Verificador de Circulação (IVC) cresceu 8,1% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram 4,392 milhões de exemplares em 2008 contra 4,062 milhões no primeiro semestre de 2007. Foi o quarto ano de crescimento ininterrupto.     





Bibliografia: BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica: História da Imprensa Brasileira. São Paulo: Ática, 1990.
                                                                                      

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